segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

HEMORRAGIAS GENITAIS DA INFÃNCIA

Hemorragias Genitais da Infância

Podemos começar por lembrar que na recém-nascida pode aparecer na primeira semana de vida uma ligeira hemorragia vaginal, que resulta da baixa de estrogénios materno – é a chamada crise genital da recém-nascida.
À parte este fenómeno fisiológico, o aparecimento de uma hemorragia genital na criança deve conduzir sempre à pesquisa das causas vulvares, vaginais, do colo uterino, ováricas, iatrogénicas e a investigar se não há sinais de puberdade precoce.
Deverá excluir-se a possibilidade de perdas sanguíneas provirem do aparelho urinário ou do intestino.
Nos casos de acidentes com lesões traumáticas sangrantes, que se estendem por vezes para o hímen e vagina, a história clínica já nos ajuda no diagnóstico.
Pequenas hemorragias de causa vulvar são as que aparecem na face interna dos pequenos lábios, por coalescência dos mesmos em caso de défice estrogénico. Esta coalescência pode ser evitada com a utilização, durante duas semanas, dum creme de estrogénios, depois da separação dos pequenos lábios.
Na fase aguda, a vulvite pode dar pequenas perdas hemáticas, que cedem rapidamente ao tratamento etiológico.
Também as lesões de condilomas podem algumas vezes provocar perdas sanguíneas vulvares. Estas lesões estão em certos casos associadas a vaginite por tricomonas.
Nas hemorragias de proveniência vaginal devemos considerar em primeiro lugar a presença dum corpo estranho. Nesta situação aparece também uma leucorreia abundante, fétida, misturada com sangue. Se o corpo estranho permanece na vagina durante muito tempo, poderá observar-se tecido de granulação e pequenas formações polipóides.
Também as inflamações vaginais se podem acompanhar de uma escorrência sero-sanguínea. Neste caso, há que investigar se houve uma infecção recente das vias respiratórias e proceder à colheita do exsudado vaginal para exame bacteriológico, pois pode tratar-se de uma infecção por estreptococos b hemolítico do grupo A.
As hemorragias vaginais da criança por tumores são felizmente uma situação rara.
A maior parte dos tumores malignos vaginais da infância são tumores mesodérmicos mistos – o sarcoma botrioide. O seu aspecto macroscópico, no estado inicial, é idêntico ao dos pólipos vaginais benignos. Dão uma ideia ilusória de serem superficiais, pois desenvolvem-se simultaneamente em várias zonas da parede vaginal a partir do tecido subepitelial.
Quer se trate dum pólipo ou de sarcoma botrioide deve fazer-se o exame histológico para o tratamento apropriado.
Se a hemorragia provém do colo uterino, é necessário verificar se não existe um tumor benigno ou maligno.
Os pólipos cervicais ou endocervicais são de longe mais raros que os raríssimos tumores malignos adenocarcinomas e sarcomas botrioides.
Se no exame com espéculo verificamos que a hemorragia provém da cavidade uterina, é necessário investigar se não se trata duma puberdade precoce.
Neste caso a história clínica dá uma boa orientação da etiologia. O uso de estrogénios de forma iatrogénica, uma história familiar de neurofibromatose, um passado de meningite ou encefalite, etc., orientará o estudo e a resolução desta puberdade precoce. Também o aparecimento dos caracteres sexuais secundários obedecendo a uma sequência e latência como os do puberdade normal, faz suspeitar de puberdade precoce verdadeira. Já o aparecimento rápido e desordenado destes caracteres sugere uma causa iatrogénica ou tumoral.
Uma outra causa da hemorragia genital da criança e de pseudopuberdade  é a presença no ovário dum tumor de células granulosas. Representa 3 a 5 % de todos os tumores ováricos, segregam estrogénios e 3 % aproximadamente são malignos.
Na criança, estes tumores ováricos são acidentalmente descobertos pela mãe ou pelo médico como uma tumefacção abdominal assintomática. Outras vezes revelam-se por uma dor aguda que pode simular um quadro de apendicite.
O toque rectal combinado com a palpação abdominal e o exame ecográfico, dão a chave do diagnóstico.
Não podemos esquecer que toda a criança que apresenta uma dor persistente periumbilical ou na fossa ilíaca ou ainda uma tumefacção abdominal, deve, em princípio, ser considerada como portadora dum tumor ovárico e portanto, ser objecto de uma ecografia pélvica, TAC ou ressonância magnética para um diagnóstico correcto.
Quando as hemorragias genitais são da responsabilidade de alterações da crase sanguínea, há concomitantemente hemorragias noutros pontos do organismo, como epistáxis, gengivorragias, etc., o que nos vai orientar o diagnóstico. O estudo laboratorial ajudar-nos-à a esclarecer a situação.

 

 

 

 

 
 
 

 

 

 

 


 

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