terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

HISTÓRIA DA CONTRACEPÇÃO (2)


Knaus baseou os seus cálculos na resposta uterina à aplicação de pituitrina com reflexos no corpo amarelo.

O período fértil passou a ser então calculado, tendo em conta a duração dos ciclos nos últimos doze meses. Porém, havia muitas vezes ovulações prematuras ou mais atrasasdas pelo que passou a haver muitos filhos de Ogino e este método atinge taxas de falhas na ordem de 20 por 100 mulheres/ano.

Em 1804 Van de Velde descobre a temperatura bifásica no ciclo da mulher e em 1938 Palmer adopta o método das temperaturas, fazendo com mais precisão o diagnóstico da ovulação, depois de observar que o endométrio se carregava de glicogénio no dia seguinte à subida térmica.

Mas voltemos atrás, aos tempos antigos.


No pensamento grego e romano foram esboçados os grandes problemas da densidade demográfica das sociedades.

Aristóteles e Platão escreveram as primeiras doutrinas populacionais da civilização ocidental, que regulavam a sociedade ideal em populações pequenas que permitisse o normal funcionamento das instituições democráticas.

Na Grécia foram impostas restrições para a idade do casamento. O poder político determinou mais tarde medidas inversas para aumentar a população, impondo sanções aos solteiros e premiando os casais com mais de três filhos.

Também o império romano adoptou medidas que restringiram acentuadamente a sua população e que levou à sua decadência.

Na Europa, a igreja católica romana foi muito influenciada pelos escritos de Sto. Agostinho (sec. IV) e posteriormente no séc. XIII por S. Tomás de Aquino, pois ambos se manifestaram contra a limitação da natalidade por qualquer método contraceptivo. Qualquer medida contraceptiva mesmo dentro do casamento era apontada como pecaminosa. Em 1588 estas ideias foram elevadas a dogma com uma bula papal que condenava à excomunhão e à morte todos aqueles que usassem “os venenos da fertilidade”. E se avançarmos no tempo, no século XX, a encíclica Humanae Vitae em 1968, condena ainda todos os meios artificiais de contracepção.

Ao longo da história da humanidade relembramos, que os indivíduos, as famílias, especialmente nas classes sociais mais abastadas e os poderes políticos que regulavam e regulam as normas das sociedades, têm todos uma autonomia que lhes permite auto regular, à sua conveniência, as medidas para diminuir a natalidade, procedendo muitas vezes contra os chamados “bons costumes de cada sociedade”.

Chegada a revolução industrial, aparece uma melhoria das condições sociais, da mortalidade e especialmente da mortalidade infantil, e a população começa então a aumentar e fazem falta métodos contraceptivos mais actuais e mais eficazes.

Em 1798 Robert Malthus, um economista britânico, que utilizou pela primeira vez a estatística para estudar o crescimento da população e usou pela primeira vez em 1880 o termo demografia, lança o alerta que todos conhecem: os alimentos crescem em proporção aritmética e a população aumenta em proporção geométrica. Propõe então na sua obra o matrimónio tardio e uma estrita castidade pré-matrimonial.

Estava lançado o movimento de controle da natalidade que teve forte oposição quer na Europa quer na América.

Nos Estados Unidos, em 1873 uma lei torna proibida a contracepção. Apesar disso, Robert Owen lança uma campanha a seu favor, por influência do que tinha observado nas suas viagens à Europa. Um seu seguidor, Dr. Charles Knowlton é perseguido e condenado a três meses de prisão.

Nos primeiros anos do Sec. XX o movimento de controle de natalidade teve como líder Margaret Sanger, uma enfermeira que trabalhava nos bairros pobres de emigrantes em Nova York e que observava de perto a miséria e o sofrimento das famílias pobres com muitos filhos. Mas nessa altura o corpo médico americano era hostil a esse movimento e duma maneira geral aos métodos contraceptivos. Ao ser ajudada pelo presidente da Sociedade Americana de Ginecologia Dr. Dickson, Margaret Sanger acabou por ver os médicos sensibilizados para o problema da contracepção. A primeira clínica de controle de natalidade começa a funcionar em Brooklyn em 1916, fundada por esta enfermeira.

Na Inglaterra Frances Place na primeira metade do século XIX, cria o movimento de controle de natalidade logo apoiado por outros médicos, que, por panfletos ou livros publicados, tiveram de enfrentar a justiça pelo apoio dado a uma causa proibida por lei. Mas no fim do sec. XIX a contracepção passa a ser legal na Inglaterra.

Em França o problema é quase semelhante, com proibição e legalização dos métodos contraceptivos. Em 1920 uma lei penaliza da mesma maneira o uso de contraceptivos e o abortamento. Durante a 2ª guerra há um silêncio absoluto e existe até repressão, exaltando-se a ideologia da família. Depois de 1945 tudo se torna diferente.

Nestes três países, espalharam-se depois os centros de planeamento familiar, onde se divulgavam os métodos contraceptivos existentes e se ministravam ensinamentos da sexualidade.

O planeamento familiar fica então ligado à libertação da mulher e os movimentos feministas fazem disto a sua bandeira e começam a aparecer até, várias obras de exaltação do amor livre, a por em causa preconceitos existentes na sexualidade. Era a etapa em que o machismo patriarcal tinha sido vencido.

Mas o que caracteriza a era moderna neste ponto é a democratização do control da natalidade, a utilização de práticas contraceptivas por parte de todos os estratos sociais, ricos e pobres, analfabetos ou não. E aparecem então os centos de planeamento familiar que se desenvolvem e espalham, tendo em vista duas finalidades:

*  a saúde  e o bem estar do indivíduo

*  e as consequências das altas taxas de crescimento da população.

Mesmo com muitos opositores, o planeamento familiar acabou por se impor nas diferentes sociedades, porque trazia consigo saúde e bem estar individual, era um direito adquirido e dava liberdade à família de ter os filhos que desejasse.

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