quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

HISTÓRIA DA CONTRACEPÇÃO (3)


Mas falta ainda a verdadeira revolução nos métodos contraceptivos. E esta aparece com a descoberta da pílula.

Depois de muitas experiências de diversos cientistas com extractos de ovários, da descoberta da estrutura dos esteroides, um passo importante na sua descoberta, deve-se a Rusel Marker, um químico que nos anos 40 investigava um grupo de esteroides chamados sapogeniinas, composto extraído de plantas e que era utilizado para aliviar a dismenorreia. Marker descobriu que uma das sapogeninas, a diosgenina tinha um núcleo semelhante ao colesterol e desse produto isolou a progesterona. Djerassi, Coulton, Albeight, Greenblatt e outros cientistas, figuram também na história do desenvolvimento e aperfeiçoamento dos estroides sexuais e da sua utilização clínica. Djerassi sintetizou a noretisterona e pouco tempo depois Coulton sintetiza o noretinodrel.

Mas o grande passo na contracepção aparece com os trabalhos de Pincus, Chang, John Rock e Ramon Garcia.


Pincus e Chang, seu colaborador, interessavam-se pela contracepção, John Rock era um professor de Harward que se interessava pela esterilidade.

Os primeiros estudos clínicos sobre contracepção hormonal foram realizados em Bóston, em mulheres voluntárias.

Mas era necessário um ensaio clínico em grande escala, o que a lei americana não permitia, por ser ainda proibida a contracepção.

Ramon Garcia trabalhava em Porto Rico e faz então o primeiro ensaio clínico nessa área.

O produto utilizado era a noretisterona, que inibia eficazmente a ovulação. Mais tarde comprovou-se que o produto continha também mestranol. Depois utilizou-se a pílula com mestranol a 150 mcg e 10 mg de noretinodrel, mas os efeitos secundários eram frequentes e a dose passou a ser 50 mcg de estrogéneo. A primeira pílula comercializada nos EU foi o Enovid, em 1950, com noretinodrel e mestranol em doses altas. Depois aparece o Enidrel com doses menores de mestranol, em 1960. Em 1964 aparecem as pílulas com etinilestradiol na dose de 50 mcg; em 1974 esta dose desce para 30 mcg.

Descobrem-se outros progestativos mais potentes com doses mais baixas e o etinilestradiol vai também descendo nas suas doses.

Neste ponto e daqui em diante somos todos contemporâneos destas modificações nas pílulas.

Aparecem depois, outros métodos hormonais de longa duração que são bem conhecidos de todos vós. E aparecem ainda métodos hormonais injectáveis, de aplicação intra-vaginal e de aplicação dérmica. Destaco aqui a investigação feita neste sector por duas grandes empresas farmacêuticas: a Schering na Alemanha e a Organon na Holanda, que foram aperfeiçoando cada vez mais a contracepção hormonal.

E um pequeno apontamento para um outro método contraceptivo moderno: o DIU.

Já todos sabemos da história das pedras no útero das camelas, constatação empírica para evitar a gravidez.

O primeiro DIU, verdadeiramente intra-uterino foi idealizado por Ritcher na Alemanha em 1909 em que usou um anel de cordão feito da tripa do bicho-da-seda.

EM 1920, Grafenberg também na Alemanha idealiza um anel de prata flexível para uso intra-uterino e Ota no Japão inventa também um anel de prata folheada a ouro. Estes anéis tiveram sucesso como contraceptivos, mas foram condenados por muitos médicos por razões filosóficas ou médicas e o seu uso caiu a partir de 1930.

Com o aparecimento do plástico nos princípios dos anos 60 há nova tendência para o regresso ao DIU, pois eram aparelhos flexíveis e com memória.

E aparece então o Lippes-loop.

Zipper nos finais dos anos 60, trabalhando no Chile utiliza dispositivos de plástico envolvidos com fios de cobre e constata que os iões de cobre libertados aumentavam a sua eficácia e diminuíam os efeitos colaterais.

 

Depois aparecem múltiplos dispositivos o cobre T, o Gravigar, o ML, o Nova T e ainda mais recentemente os DIUs com progesterona e levonorgestrel que têm indicações suplementares, para além do seu efeito contraceptivo.

Para terminar, permitam-me que faça uma brevíssima nota sobre Portugal, neste domínio do planeamento familiar e da contracepção.

Entre nós, o pioneiro do Planeamento Familiar, nos anos 60, co-fundador da Associação para o Planeamento da Família e o criador da primeira consulta de Planeamento da Familiar, sendo mais tarde em 1974 eleito para o Comité Executivo Europeu da Federação Internacional do Planeamento da Família, foi o Dr. Albino Aroso, que deu início à sensibilização e execução prática deste problema e que fez escola com os seus colaboradores no Hospital de Stº António.

E, por isso, é sempre justo prestar homenagem a este ilustre clínico portuense

que ficará  para sempre na história do Planeamento Familiar do nosso país.

 
 

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