Mas
falta ainda a verdadeira revolução nos métodos contraceptivos. E esta aparece
com a descoberta da pílula.
Depois
de muitas experiências de diversos cientistas com extractos de ovários, da
descoberta da estrutura dos esteroides, um passo importante na sua descoberta,
deve-se a Rusel Marker, um químico que nos anos 40 investigava um grupo de
esteroides chamados sapogeniinas, composto extraído de plantas e que era
utilizado para aliviar a dismenorreia. Marker descobriu que uma das sapogeninas,
a diosgenina tinha um núcleo semelhante ao colesterol e desse produto isolou a
progesterona. Djerassi, Coulton, Albeight, Greenblatt e outros cientistas,
figuram também na história do desenvolvimento e aperfeiçoamento dos estroides
sexuais e da sua utilização clínica. Djerassi sintetizou a noretisterona e
pouco tempo depois Coulton sintetiza o noretinodrel.
Mas o
grande passo na contracepção aparece com os trabalhos de Pincus, Chang, John
Rock e Ramon Garcia.
Pincus
e Chang, seu colaborador, interessavam-se pela contracepção, John Rock era um
professor de Harward que se interessava pela esterilidade.
Os
primeiros estudos clínicos sobre contracepção hormonal foram realizados em
Bóston, em mulheres voluntárias.
Mas
era necessário um ensaio clínico em grande escala, o que a lei americana não
permitia, por ser ainda proibida a contracepção.
Ramon
Garcia trabalhava em Porto Rico e faz então o primeiro ensaio clínico nessa
área.
O
produto utilizado era a noretisterona, que inibia eficazmente a ovulação. Mais
tarde comprovou-se que o produto continha também mestranol. Depois utilizou-se
a pílula com mestranol a 150 mcg e 10 mg de noretinodrel, mas os efeitos
secundários eram frequentes e a dose passou a ser 50 mcg de estrogéneo. A
primeira pílula comercializada nos EU foi o Enovid, em 1950, com noretinodrel e
mestranol em doses altas. Depois aparece o Enidrel com doses menores de
mestranol, em 1960. Em 1964 aparecem as pílulas com etinilestradiol na dose de
50 mcg; em 1974 esta dose desce para 30 mcg.
Descobrem-se
outros progestativos mais potentes com doses mais baixas e o etinilestradiol
vai também descendo nas suas doses.
Neste ponto
e daqui em diante somos todos contemporâneos destas modificações nas pílulas.
Aparecem
depois, outros métodos hormonais de longa duração que são bem conhecidos de
todos vós. E aparecem ainda métodos hormonais injectáveis, de aplicação
intra-vaginal e de aplicação dérmica. Destaco aqui a investigação feita neste
sector por duas grandes empresas farmacêuticas: a Schering na Alemanha e a
Organon na Holanda, que foram aperfeiçoando cada vez mais a contracepção hormonal.
E um pequeno apontamento para um outro método contraceptivo
moderno: o DIU.
Já
todos sabemos da história das pedras no útero das camelas, constatação empírica
para evitar a gravidez.
O
primeiro DIU, verdadeiramente intra-uterino foi idealizado por Ritcher na
Alemanha em 1909 em que usou um anel de cordão feito da tripa do bicho-da-seda.
EM
1920, Grafenberg também na Alemanha idealiza um anel de prata flexível para uso
intra-uterino e Ota no Japão inventa também um anel de prata folheada a ouro.
Estes anéis tiveram sucesso como contraceptivos, mas foram condenados por
muitos médicos por razões filosóficas ou médicas e o seu uso caiu a partir de
1930.
Com o
aparecimento do plástico nos princípios dos anos 60 há nova tendência para o
regresso ao DIU, pois eram aparelhos flexíveis e com memória.
E
aparece então o Lippes-loop.
Zipper
nos finais dos anos 60, trabalhando no Chile utiliza dispositivos de plástico
envolvidos com fios de cobre e constata que os iões de cobre libertados
aumentavam a sua eficácia e diminuíam os efeitos colaterais.
Depois
aparecem múltiplos dispositivos o cobre T, o Gravigar, o ML, o Nova T e ainda
mais recentemente os DIUs com progesterona e levonorgestrel que têm indicações
suplementares, para além do seu efeito contraceptivo.
Para
terminar, permitam-me que faça uma brevíssima nota sobre Portugal, neste
domínio do planeamento familiar e da contracepção.
Entre
nós, o pioneiro do Planeamento Familiar, nos anos 60, co-fundador da Associação
para o Planeamento da Família e o criador da primeira consulta de Planeamento
da Familiar, sendo mais tarde em 1974 eleito para o Comité Executivo Europeu da
Federação Internacional do Planeamento da Família, foi o Dr. Albino Aroso, que
deu início à sensibilização e execução prática deste problema e que fez escola
com os seus colaboradores no Hospital de Stº António.
E, por
isso, é sempre justo prestar homenagem a este ilustre clínico portuense
que ficará para sempre na história do Planeamento Familiar
do nosso país.
Sem comentários:
Enviar um comentário